Más resultados...
Sob uma perspectiva semiótica todas as linguagens são importantes. Não há hierarquia entre elas. Em outras palavras: há uma espécie de “tirania consensual” ao se teorizar que podemos pensar apenas com o verbal. E mais: apenas o que está “escrito” teria, de fato, um valor maior. Grande engano. Este livro possui, entre outras coisas que poderiam ser ressaltadas, a grande lucidez de mostrar, pelos mais variados textos que aqui estão reunidos, a importância da linguagem cinematográfica por tratar, na verdade, de seu hibridismo. Um filme é, sempre, muito revelador. Foi Deleuze um dos pioneiros a tratar profundamente os efeitos da linguagem cinematográfica ao destacar, com base en Bergson, a importância do cinema para o pensamento. Ao se assistir um filme temos o verbal, as trilhas sonoras, as metáforas visuais, os planos de espaço e blocos de temporalidade que, juntos, desautomatizam a percepção comum. Nessa medida, formas de pensamento profundo emergem como a pureza dos cristais. A proposta deste livro, em nível de conteúdo, desvela duas pontas da vida (como diria Machado de Assis… o velho bruxo): infância e velhice. Como resgatá-las? Em que medida? Subjaz, de forma interdita, em todos os textos: a infância tem que ser vivida da forma mais plena possível. Por quê? Para que o núcleo infantil que reside em todos nós seja resgatado na velhice com a dignidade de um encontro em que uma estética da sensibilidade seja, sempre, soberana e aponte para diálogos, subjetivos ou não, por vias de uma ternura insondável. Misteriosa.
Ana Maria Haddad Baptista / outono de 2021